O talento viciante de Carol Biazin

Carol Biazin chegou de mansinho e, aos poucos, mas com muito trabalho, conquistou não apenas uma grande base de fãs como também uma relação sólida com os milhares de admiradores que a acompanham nas redes sociais e lotam seus shows. Tive a doce experiência de conhecê-la antes de uma apresentação em Brasília e pude ver de perto uma multidão cantando com emoção todas as letras dos seus projetos. Entre gritos, lágrimas e muito carinho, seus fãs confirmaram o que eu já suspeitava: Carol Biazin se conecta com todos. Sua arte não se limita a um nicho — ela fala de algo universal: o amor.

É esse amor, presente em suas relações, românticas ou não, que faz dela uma compositora excepcional. Biazin não apenas conta histórias, mas também cria magia ao transformar seus sentimentos mais íntimos em melodias que grudam. Ainda que já tenha lançado diversos projetos, sua música conserva o frescor do novo. Talvez isso aconteça porque, mesmo com uma identidade artística bem definida, a estrela, como uma boa popstar, sabe explorar diferentes estilos com naturalidade.

Além de compositora, Carol é multi-instrumentista e uma cantora que imprime emoção em cada vibração vocal. Sua arte é grandiosa, assim como seu talento. Confira nosso bate-papo descontraído sobre os seus sonhos e sobre o álbum “No Escuro, Quem É Você?”, projeto que estará disponível em todas as plataformas de áudio no dia 22 de maio.

FEATURE INTERVIEW:

Em que momento você percebeu que a música deixaria de ser apenas uma paixão para se tornar sua profissão?

Bom, eu sempre levei a música muito, muito, muito a sério. Acho que, quando ela passa a ser não só algo que você faz porque gosta, mas também algo que você faz para viver, para tirar sua renda, é quando a coisa fica mais séria. Acredito que foi quando comecei a fazer meus primeiros covers no YouTube. Na verdade, eu faço desde 2012, mas foi em 2017, 2018, por aí, que comecei a ganhar uma grana com isso. Foi aí que entendi não só o quanto aquilo me fazia bem para a alma, mas que também me traria uma estabilidade financeira. E eu precisava continuar seguindo, já que era isso que eu tinha escolhido como sonho.

Como é, para você, ser uma artista LGBTQIAP+ no Brasil, com todos os desafios e conquistas que essa posição carrega?

Para mim, o desafio de ser uma artista LGBTQIAPN+ no Brasil está mais vinculado à minha autossabotagem, que por muito tempo esteve presente no meu dia a dia. Eu tinha uma insegurança absurda, que acredito ter vindo muito desse lugar onde me colocavam apenas como essa pessoa. “Você só é a menina lésbica que canta música para lésbicas, e você vai ser sempre isso aí!” Existia um boicote da minha parte em ouvir essas coisas.

Então acho que o desafio, tirando a parte óbvia que é o preconceito de muita gente que ainda vive com a cabeça em 1800, é esse: ganhar confiança, ser uma mulher lésbica com confiança. Essa foi a parte mais complexa para mim. Conquistei isso com muito suor, demorou… Realmente, foi grão por grão. E tive uma ajuda absurda, não só da minha família, dos amigos, da minha base, mas dos fãs também, que me abraçaram como eu sou. Isso me deu tesão na parada, me deu brilho nos olhos, vontade de fazer do meu jeito. A maior dificuldade, para mim, foi conseguir ter acesso a esse amor-próprio.

Você escreve com frequência sobre suas relações afetivas. Compor funciona também como uma forma de autocura ou reflexão emocional?

Eu brinco que a terapia, para mim, é a minha composição. Obviamente eu faço terapia também, mas, de fato, é um lugar onde, às vezes, consigo falar de forma não tão literal sobre as coisas. “Ah, passei por isso, passei por aquilo” — e, às vezes, a música causa um sentimento que eu entendo exatamente, consigo dar nome aos bois, entender aquilo que eu estava de fato sentindo, que eu estava vivendo. Entendo algumas emoções, no final das contas, quando termino uma canção. Já aconteceu de eu entender que estava errada depois de escrever uma música. Eu pensava: “na real, essa não é a visão, a visão é essa, é isso aqui que está acontecendo.” Então, de fato, é um lugar onde consigo ter muito entendimento, autoentendimento.

Seu próximo álbum vem aí. Podemos esperar novas parcerias? Há algo que já possa nos contar sobre o projeto?

O projeto “No Escuro, Quem É Você?” é um projeto extenso, querendo ou não, porque foi lançado no ano passado, em junho. A primeira parte saiu então, e agora estamos lançando a segunda parte em maio, praticamente um ano depois. Na primeira parte, contei com um feat, que foi a Duquesa. Nesta segunda parte temos dois feats. Um vocês já conhecem, que foi a Ebony, e o outro ainda não posso revelar. Mas é uma pessoa que admiro demais e é um grande, grande amigo meu. Já fazia muito tempo que falávamos sobre fazer um feat, e conseguimos realizar isso neste projeto. É uma música que tem um papel muito especial, muito forte, talvez como a natureza — fala sobre angústia, sobre frustrações.

E tanto eu quanto essa pessoa estávamos passando pela mesma coisa. Foi muito bom ter essa troca. Olhar um para o outro e falar: “você também sente isso? Vamos fazer uma música.” E escrevemos da forma mais despretensiosa possível. Acho que foi a faixa mais despretensiosa do projeto. Ela é diferente, é a que mais destoa das outras. Em breve vocês vão saber melhor sobre esse feat. Ainda não posso revelar nada, mas é isso: é um projeto muito pessoal. Eu realmente escolhi a dedo as pessoas que traria para perto. Estou no terceiro álbum da minha carreira — praticamente o quarto, se pensarmos em quantidade de faixas. Mas considero como o terceiro ainda. O segundo não trouxe feats.

O primeiro foi o que mais teve, com certeza. Feats que me abraçaram muito e mudaram a minha trajetória. Mas eu gosto muito dessa caminhada sozinha, sabe? Porque sinto que o álbum é sempre uma descoberta, uma coisa que você precisa fazer olhando para dentro. Pelo menos eu me vejo muito assim. E esse projeto tem isso. Ele pede isso: “No escuro, quem é você?” É muito, muito pessoal — mas muito coletivo também. Quando falo coletivo, quero dizer que é um projeto que vai, sim, causar identificação em muitas pessoas, pelas letras, pelos temas das músicas.

Como você lida com a pressão da indústria musical por números e resultados? Isso impacta, de alguma forma, o seu processo criativo?

Nossa, essa pergunta sobre a indústria musical em números… acho que é o maior dilema. É impossível ser artista hoje — um artista que tem contato com redes sociais, que cuida, que gosta de olhar e guiar o 360, que está perto, no dia a dia de tudo — e não ser impactado com essa pressão absurda da indústria musical por números e resultados. O que faço é evitar contato com redes sociais ao máximo enquanto estou criando. Quando estou criando, preciso me blindar. A comparação é uma parada que machuca, destrói, tira a autoestima. E muitas vezes sei que não sou a única artista que passa por isso. Vejo pessoas de fora ou, às vezes, de dentro, comparando artistas, e isso é o que mais fere.

Porque você não é o outro. Precisamos ser únicos. Cada um tem sua vivência, cada um veio de um lugar, cada um tem um calor diferente, um olho diferente. Não dá para colocar em parâmetro. É uma tendência que tenho visto em várias equipes, em várias casas: “Ah, aquele artista foi muito bem naquele projeto. Vamos olhar para isso.” Legal. É uma boa ação. Mas não vai funcionar, porque… são coisas que não dá para explicar. O rolê é focar no seu. Cem por cento. Olhar para dentro. E, neste projeto, precisei fazer isso. Precisei me blindar muitas vezes para ignorar comentários e criar uma autoestima para mim, para o projeto, e para todo mundo que estava colocando ele na rua. Tem também esse lugar: o artista, além de criar, precisa ser a sua própria autoestima. Se o artista está inseguro, nada dá certo. Esse foi o meu mantra durante o projeto inteiro.

Como é o ritmo dos seus dias? Consegue equilibrar trabalho e momentos de respiro na sua rotina?

Eu vou dizer que o ritmo dos meus dias está bem acelerado. Estou sentindo que tudo está muito, muito, muito rápido — mais do que o normal. Acho que entrei nesse fluxo e, de certa forma, me acostumei. Estou tentando me desacostumar, porque não é uma rotina saudável. Muitas vezes me pegava almoçando com o celular na cara, respondendo tudo na hora, como se, se eu não respondesse na hora, tudo fosse desmoronar. E eu vejo — e sei — que isso não acontece só comigo. Inclusive, trato disso no meu álbum, em uma faixa chamada “Dilemas da Vida Moderna”, que fala sobre essa necessidade e essa urgência de dar conta de tudo.

De ser uma pessoa incrível na vida pessoal, uma pessoa incrível no trabalho. Só que, às vezes, você vai ser medíocre em algum dos dois. E isso precisa fazer sentido também. Não pode ser algo que você não entende. Você precisa entender e seguir. Bola para frente. Um dia de cada vez. Essa é a parada. Os meus respiros têm sido as manhãs. Tento ao máximo, sempre que consigo, ficar longe do celular, fazer algum exercício, comer algo legal, bom, saudável — algo que alimente meu corpo, alimente minha alma. Enfim, essa é a minha rotina.

Qual é o seu maior sonho hoje? Há algo que ainda te move como objetivo central, seja na vida pessoal ou na trajetória artística?

Às vezes tenho a sensação de que realizei todos aqueles sonhos de menina. Então, hoje, quando me perguntam, acho que são sonhos muito atualizados. Fui vendo que fui capaz de fazer tudo aquilo que eu queria, e agora estou reconfigurando alguns sonhos. O meu maior sonho hoje é rodar o Brasil com o show. Esse está sendo o meu maior sonho agora. É por isso que estou trabalhando, é por isso que estou fazendo as coisas. Porque realmente quero muito que esse sonho aconteça.

E, quando acontecer, eu atualizo ele de novo, né? A gente precisa ter algo para correr atrás. Está sendo o meu objetivo: rodar o Brasil, conseguir passar por lugares onde ainda não estive. Até porque fazer show hoje, no Brasil, é um grande desafio. Mesmo dando sold out — e eu já dei vários, em várias casas — ainda assim, muitas vezes, não saímos com caixa. Eu falo: “caramba, estamos ganhando dinheiro com o nosso trabalho.”

Mas a minha renda principal ainda não vem dos shows. E meu sonho é que venha. É um grande quebra-cabeça. E sei que não sou a única passando por isso. Todos os eventos também estão. É algo que está acontecendo e precisamos encontrar um jeito de resolver. Espero que toda a classe artística consiga resolver isso em conjunto, para podermos colocar nosso som na rua. Porque eu, pelo menos, faço música para isso: tocar em show. E é muito triste quando olhamos e pensamos: “caramba, é muito difícil chegar em tal lugar, não vamos ter dinheiro para ir.” Podemos dar sold out e, mesmo assim, é difícil. A logística é complicada e cara. É aí que o coração aperta. Dá vontade de dar um jeito. Mas é isso: a gente trabalha para dar jeito. Para resolver o problema também.

TEAM CREDITS:

Editor-in-Chief: Prince Chenoa

Feature Editor: Taylor Winter Wilson (@taylorwinter)

Brazil Editor: Leonardo Loreto (@leonardoloreto)

Writer: Gillian Caetano (@gilliancaetano)

Photographer: Rafe Opaiva (@rafaeopaiva)

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