Thiago Pantaleão consolida o status de popstar com autenticidade e talento

Thiago Pantaleão descobriu, ainda na infância, nos cultos da igreja, a força e a beleza da música. Inspirado pela mãe, que cantava nas celebrações, fez da arte sua confidente — e, anos depois, seu ofício. Fenômeno na internet desde 2020, o artista instiga seus fãs com canções sensuais que exploram os desejos e as vivências de um jovem LGBTQIAPN+. Em seu repertório também há espaço para a delicadeza: Thiago revela seu lado romântico em canções que dão protagonismo ao seu talento vocal.

Em “Nova Era“, seu álbum mais recente, Pantaleão apresenta todas as suas nuances. Assina composições autorais, transita com naturalidade entre diferentes ritmos e influencia a imaginação do público — que acompanha, atento, cada passo de suas coreografias nos vídeos que completam o projeto.

Mesmo com um currículo de dar inveja — com apresentações em palcos como o Rock in Rio e parcerias com grandes nomes da música —, Thiago Pantaleão sonha ainda mais alto. E sabe que o futuro é grandioso, como o pai sempre o ensinou a sonhar.

FEATURE INTERVIEW:

Você cresceu em um ambiente musical, com uma mãe considerada uma “diva gospel” e um pai também músico. De que forma essa vivência familiar moldou sua identidade artística — especialmente agora, em que você transita com tanta liberdade entre o pop, a dança e outras linguagens?

Acho que pelo fato de a minha primeira referência musical — meu primeiro contato com música — ter sido vendo minha mãe cantando na igreja e aquilo automaticamente inspirando outras pessoas ao redor, é como se eu tivesse visto a minha heroína, a minha deusa, de verdade. Lembro que, dentro da igreja, sempre adoramos uma figura masculina, mas a minha maior referência — até hoje — de amor, de tudo o que se aproxima do amor de Cristo, sempre foi a forma como minha mãe lidava com a vida. Pelo amor que sinto por ela, vendo sua luta diária e a forma linda com que ela cantava, inspirava e emocionava as pessoas… Eu chorava ouvindo ela cantar. Muita gente chorava também. Minha mãe sempre teve um toque especial, uma visão diferente da vida. Isso acabou me inspirando muito com a música.

A música sempre esteve presente na nossa família, de forma natural — virou minha melhor amiga, mesmo antes de eu racionalizar isso. E só agora consigo entender. Na igreja, a gente tem muitas exigências musicais e técnicas. Com o tempo, o ouvido vai ficando mais crítico, buscando arranjos rebuscados, informações técnicas, acadêmicas — é algo natural dentro desse ambiente. Por muito tempo, foi isso que eu busquei para mim, mesmo sem perceber. Mas, ao mesmo tempo, isso gerava um conflito entre quem eu era e quem eu precisava ser dentro da igreja. E a música, até nisso, me acompanhou e me deu significado, mesmo quando a igreja já não fazia mais parte do que eu era.

Com o tempo, meus pais também começaram a mostrar seus gostos pessoais, a falar sobre músicas fora do ambiente religioso. Me deram um CD com os maiores sucessos internacionais dos anos 1990 — o que eles amavam ouvir, e o que eu podia escutar também. Isso começou a me moldar. Passei a me interessar por artistas que tinham compatibilidade com os cantores da igreja, já que muitos também vieram desse ambiente. A gente tem uma questão muito específica: gostamos de melismas, de vozes potentes, de técnica, de arranjos complexos. Aí comecei a ouvir muito Mariah Carey, Beyoncé, pesquisei sobre Aretha Franklin e outras grandes vozes internacionais — até encontrar referências no Brasil também.

Foi um processo de descoberta ligado diretamente à minha identidade, enquanto pessoa. Porque havia o conflito entre sexualidade e religião. E o meu despertar com a música foi quando ela começou a estruturar minha vida. Saí do interior, fui morar numa cidade com pessoas de mente mais aberta. Quis escrever uma carta aberta com todos os meus sentimentos reprimidos — que foi o que aconteceu no meu primeiro álbum. Acho que a música dentro da igreja me moldou tecnicamente. E esse processo soma com o conflito vivido ali dentro, que me fez entender quem eu era e querer dar um grito de liberdade de expressão. Um grito que acabou atingindo muita gente. Foi uma junção de muito amor e música que me transformou no que sou hoje.

Seu álbum mais recente, “Nova Era”, faz referência direta ao bairro onde você nasceu. Que tipo de nova era você sente que inaugurou com esse projeto, tanto na sua carreira quanto na cena pop brasileira?

Nova Era” é uma vontade de resgatar tudo o que vivi quando morava em Paracambi, no interior, num bairro chamado Nova Era. É um projeto íntimo, dividido em duas etapas durante a produção: uma parte mais dançante e outra mais introspectiva. Foi um desafio. Um novo estilo de composição, uma nova identidade artística. Eu queria muito que as pessoas me enxergassem de formas diferentes — e não apenas como o menino que falava sobre liberdade sexual.

Esse álbum é muito especial porque me mostrou que sou capaz de cantar qualquer coisa. Também resgata referências que sempre fizeram parte da minha vida e que, por causa do meio pop mais imediatista, acabei deixando de lado. É um álbum que tem um apreço muito musical. Gosto de ver os comentários sobre produção, sobre a voz que está ali. Foi também uma forma de aprender a compor de outra maneira. Como comecei tudo muito junto — composição e carreira — considero esse álbum como uma zona cinzenta, onde posso reescrever a minha história.

Não que eu não tenha orgulho do que já fiz, mas quero explorar novos horizontes. Não quero que minha carreira tenha uma única linha. Quero explorar tudo o que minha voz alcança, tudo o que fez parte da minha formação musical. Porque acho importante manter essa conexão com as origens, com os estilos musicais que sempre estiveram presentes, mesmo fazendo pop.

Você se apresentou no Rock in Rio. Como foi viver esse momento em um dos maiores festivais do mundo e o que essa performance representa para você como artista negro e LGBTQIAPN+?

Me apresentar no Rock in Rio, com certeza, é um dos marcos da minha carreira — um dos melhores momentos da minha vida. Principalmente porque foi o primeiro show que minha mãe assistiu. Pela dimensão do festival, por cantar num palco que eu via desde criança, que minha família toda assistia… Estar ali, num espaço onde a narrativa de muitos artistas se cruza — pessoas que vieram de lugares com menos oportunidades, que resistiram, que chegaram onde estão com muita luta — foi algo muito especial.

Tenho muito orgulho. O Rock in Rio é um dos maiores festivais do mundo, e isso comprova o trabalho duro de uma equipe gigante, o meu esforço, o sonho da minha família. Estar ali foi viver um sonho que qualquer artista gostaria de viver. Ainda mais sendo um artista preto, LGBTQIAPN+, que enfrenta desafios todos os dias. Estar de pé, resistindo, já é uma vitória. Alcançar espaços que o sistema não quer que você alcance significa muito.

Ver a felicidade da minha mãe, viver esse sonho com ela… Meu pai, que é caminhoneiro, me mandando mensagem enquanto rodava o Brasil — foi tudo muito bonito. Foi uma experiência que vai ficar marcada pra sempre.

Nos últimos anos, suas parcerias foram de Duda Beat a Karol Conká, de Lukinhas a Luiz Lins. O que você busca em um feat e como essas colaborações impactam sua visão criativa?

Os feats foram acontecendo naturalmente. O Lukinhas é um artista que admiro muito, um irmão que a música me deu. Conheci ele já trabalhando com música e, de cara, viramos irmãos. Ele também me inspira — é, pra mim, um dos maiores compositores e artistas da nossa geração, no Brasil e no mundo. Toda vez que temos a oportunidade de trabalhar juntos, além da amizade, eu aprendo muito. Isso me ajuda como artista: na maneira de me portar no palco, de compor, de entender o meu propósito.

O Lukinhas é multifacetado: toca vários instrumentos, compõe muito bem, tanto pra ele quanto pra uma gama enorme de artistas, do mainstream ao underground, em vários gêneros musicais. Isso só reforça meu desejo de ser tão bom quanto ele — é uma jornada pessoal. Fico grato por ter a oportunidade de ser amigo de um dos maiores artistas.

Duda Beat e Karol Conká são mulheres fortes, que eu consumia como fã antes mesmo de trabalhar com música. Essas parcerias representam muito da realização do meu trabalho. Luiz Lins é um poeta da nossa geração — a maneira como ele lida com letras, com a música e com a complexidade dos sentimentos humanos me impacta profundamente.

Sou muito privilegiado por ter trilhado minha trajetória ao lado de nomes que me inspiram. Essa troca, essa união, enriquece nosso trabalho. Estar cercado de pessoas talentosas e com vivências semelhantes ajuda a compor melhor, cantar melhor. O Lukinhas vem de um lugar parecido com o meu; o Luiz Lins, de outra região do Brasil, mas com histórias que se cruzam. Criamos uma corrente de música que nos fortalece criativamente.

Qual é o seu feat dos sonhos?

Tenho vários feats dos sonhos, mas acho que o maior de todos é cantar com a Rihanna. Sei que é um sonho enorme para um artista que veio da Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro. Mas, como eu nem imaginava que um dia seria cantor e viveria de música — e hoje sustento a minha família com isso —, não acho impossível sonhar com um feat com a artista que mais mexeu comigo.

Rihanna e Beyoncé são os dois nomes com os quais eu mais sonho em colaborar. E eu sonho grande, porque, se for pra sonhar pequeno, eu nem sonho. Meu pai sempre me ensinou a querer alcançar as estrelas. E, pra mim, a maior estrela do mundo é a Rihanna.

Sua presença nas redes sociais é tão impactante quanto sua música, dança e visual. O quanto a estética influencia o que você quer comunicar como artista?

Sempre tive como referência artistas que valorizam a estética e a cultura de onde vêm — seja nas roupas, na personalidade, na forma de se expressar. A gente vive num mundo extremamente diverso, com culturas completamente diferentes. E hoje existe uma necessidade enorme por artistas reais. Por muito tempo, a indústria criou produtos prontos, sem se aprofundar na essência de quem os artistas realmente eram.

Hoje, com as redes sociais e essa necessidade de pertencimento, a estética, o estilo de vida e a identidade andam junto com a música. Não existe mais um sem o outro. É importante se expressar para além das letras, mostrar que você faz parte de um movimento que impacta diretamente sua vida. Sempre tive essa vontade de mostrar minha personalidade — no que acredito, no que visto. Roupa também é uma forma de se expressar. A forma como você se apresenta nas redes sociais também comunica quem você é.

Desde pequeno, eu sentia a necessidade de criar uma comunidade. Me sentia deslocado na cidade onde cresci, por ter pensamentos diferentes dos que estavam ao meu redor. A internet se tornou esse lugar de busca — onde encontrei pessoas com gostos em comum. E acho que a música hoje é isso: não é só escutar, é fazer parte do movimento, das festas, das roupas, da identidade que acompanha aquele som. A expressão artística é plural. Vai muito além do que está nas letras. A maneira como você se veste, como se posiciona online, tudo isso traduz sentimentos e intenções.

 Qual artista mais te inspira ou te inspirou ao longo da sua trajetória?

Sempre fui muito impactado por artistas femininas. Talvez por minha primeira diva ter sido minha mãe — minha maior inspiração. Isso me levou naturalmente a me inspirar em mulheres como Rihanna, Beyoncé, Anitta e Ludmilla. Conforme fui me aprofundando na música, outras artistas passaram a me tocar também.

Preta Gil, por exemplo, é uma das maiores artistas do Brasil. A força da trajetória dela, a forma como lida com a vida, com a arte, com o sucesso desde nova… Tudo isso me inspira muito. Sempre tive grandes influências de mulheres negras — acredito que a música delas carrega um peso que vai além da técnica. É carregada de sentimento. São vozes que fazem você viver algo enquanto ouve. Essas artistas me impactaram profundamente.

Como você enxerga os desafios e as potências de ser um artista LGBTQIAPN+ no Brasil hoje?

Pode soar estranho, mas acho que o maior desafio — e, ao mesmo tempo, o que me torna mais potente — foi lidar com tudo isso sendo um homem preto, miscigenado. Isso gerava uma confusão, tanto na cabeça das pessoas quanto na minha. Um dos maiores desafios foi a crise de identidade, não saber a qual grupo pertencia. Tive que lidar com o racismo de maneira velada — em comentários, em sugestões — e, às vezes, de forma mais agressiva, como na repressão do Estado. Isso me afetou muito.

Essa bagagem de vida é pesada. Além de tudo, a gente precisa ser proativo, ter carisma, estar bem, mostrar força. E também acolher. Porque o papel do artista é causar desconforto, gerar reflexão, trazer representatividade — ser uma referência para quem busca inspiração para seguir em frente.

Carregar essa responsabilidade, depois de tanta dor, é desafiador. Mas isso também me tornou um ser humano melhor. Mais atento aos meus sentimentos e aos dos outros. Isso me transformou em um artista mais sensível às questões sociais, aos sentimentos.

Mesmo com as marcas que carrego, foi essa sensibilidade que me fortaleceu. Me ensinou que é no carinho, no amor e na empatia que a gente encontra potência. E é isso que tento transmitir: que sobrevivi, que sigo resistindo — e que isso também pode ser inspiração para outras pessoas.

TEAM CREDITS:

Editor-in-Chief: Prince Chenoa

Feature Editor: Taylor Winter Wilson (@taylorwinter)

Brazil Editor & Creative Director: Leonardo Loreto (@leonardoloreto)

Writer: Gillian Caetano Gillian Caetano (@gilliancaetano)

Fotografia: Gabriel Inácio (@santos_gb)

Assistente de Fotografia: João Falcão (@falcao.ft)

Wardrobe Stylist: Rachel Vieira (@vieirarachel)

Assistência de Wardrobe Stylist: Gabriel Gil (@gilgabes)

Filmmaker & BTS: Lucas Saloto (@olucassaloto)

Marketing: Mariana Coury (@marianacoury)

Social Media: Fernanda Thomáz (@nandathomaaz)

CMO: Malu Barbosa (@malupbarbosa)

CEO: Marcello Azevedo

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