As revolucionárias Irmãs de Pau!

Irmãs de talento e propósito, Isma e Vita Pereira provam que a música é uma das formas mais poderosas de expressão artística. Ao se unirem musicalmente em 2021, as cantoras não transformaram apenas as próprias vidas, mas também a do imenso público que as acompanha e mergulha no universo criativo da dupla. Livres, ousadas e necessárias, as estrelas mostram a mais de 1 milhão de ouvintes mensais que as aventuras de duas travestis periféricas são inspiradoras — e merecem ser celebradas por todos. Com o novo álbum “Gambiarra Chic, Pt. 2“, costurado por batidas do funk e da música eletrônica, as artistas reafirmam: não são passageiras, são revolucionárias!

FEATURE INTERVIEW:

Como surgiu a dupla Irmãs de Pau? Em que momento vocês se reconheceram como estrelas poderosas?

Isma: Éramos amigas desde 2015. Estávamos nos reconhecendo em meio aos encontros da travestilidade e das atividades dos movimentos sociais. Ocupamos uma escola juntas, lutando pela educação, e ambas foram estudar Pedagogia. As Irmãs de Pau surgiram na pandemia (2021), em meio à necessidade de não ficar paradas. Estávamos agoniadas, com fogo no rabo, nos juntamos e começamos a lançar as músicas na internet. A coisa foi pegando, e, quando a pandemia acabou, já tínhamos uma agenda de shows pelo Brasil.

Vita: Acho que já respondemos tanto essa questão que, às vezes, se tornou mecânico falar sobre esse assunto. Mas é bem interessante também responder a ela de muitas formas. Acredito que esse projeto surgiu porque nós temos coragem. Coragem de viver a nossa verdade. A irmandade veio primeiro, depois foi a consciência política da liberdade sexual e da emancipação dos nossos corpos — por isso, o pau. Nos tornamos irmãs e nos reconhecemos no pau.

Quando iniciaram a produção do álbum, vocês já tinham uma visão clara do que queriam ou o projeto — incluindo as colaborações — tomou forma aos poucos?

Isma: Tínhamos uma visão de muita coisa, mas ao mesmo tempo deixamos fluir. Algumas coisas mudaram, ideias novas surgiram no meio do caminho. Nosso processo sempre respeitou o fluxo das nossas vidas. E, na realidade, a gambiarra ainda se faz presente nas nossas realidades. Por isso, o processo aconteceu do jeito que deu pra acontecer. Foi gostoso, real, sincero. Acredito que fomos até além do que queríamos na ideia inicial, mas para isso foi preciso repensar os prazos muitas vezes.

Vita: Desde o início a gente sabia o que queria: falar sobre os espaços de poder que ocupamos durante nossa trajetória e sobre a nossa pesquisa das “estéticas da putaria brasileira”. Mas isso foi ganhando forma e força com todo mundo que foi entrando no projeto. Cada feat, cada produtor, cada pessoa do criativo somou e foi levando o projeto para um lugar que é muito maior do que nós. Não havia apenas um lugar, não era apenas um caminho. Sinto que habitamos as encruzilhadas futuristas e, no tempo espiralar, cantamos nossa putaria.

Vocês vêm conquistando cada vez mais espaço e atraindo a atenção de grandes nomes do mercado. Há alguém com quem desejam colaborar em breve?

Isma: Sim! Está sendo muito importante o apoio da galera. Artistas grandes ajudam a impulsionar e a quebrar os tabus do mercado. Sobretudo as meninas cisgêneras, como Ebony e Duquesa, ajudam a mostrar que temos muito a falar para além das questões trans, que temos pontos de encontro nas nossas vivências e que não servimos para alimentar apenas um nicho específico. Somos amplas e temos muito a dizer. Eu sonho em colaborar com o Veigh, visto que eu, Isma, sou da mesma quebrada que ele — COHAB de Itapevi. Seria simbólico pra mim.

Vita: Fico extremamente feliz com todas as pessoas com quem já colaborei. Quando essa pergunta aparece, sempre penso na resposta: “BEYONCÉ!”, porque ela é uma das minhas maiores referências. Tenho esse sonho. Mas, neste momento, meu desejo está em fortalecer e colaborar com diversos artistas do underground. This is my house! Há tantos artistas fodas, que estão revolucionando a cena e me desafiam constantemente a sair da zona de conforto.

Outro ponto é que também gosto de trabalhar com artistas bem diferentes da minha pesquisa. Foi incrível, por exemplo, colaborar com a pastora Ventura Profana e vê-la cantando putaria. Isso me instiga demais — trazer artistas com outras pesquisas e trajetórias, e poder colaborar com eles, produzindo um gozo farto e próspero de vida.

Vocês têm algum ritual antes de subir ao palco? Algo que ajude a concentrar, energizar ou fortalecer a conexão entre vocês antes da performance?

Isma: Somos muito religiosas. Falamos disso nas músicas, e eu gosto de me alinhar com minhas entidades antes de subir ao palco: pedir proteção ao meu anjo da guarda, coragem para minha pombagira e força para minha mãe Oxum.

Vita: Eu tenho vários rituais. Não falo sobre eles, mas eles começam na minha casa, antes de sair para o show ou para a viagem. A cada momento da minha vida, percebo que preciso me conectar com uma magia diferente. Cada show, cada festival, cada momento tem um trabalho espiritual específico para subir no palco e entregar meu trabalho. Gosto de fortalecer o meu individual primeiro, fortalecer meu ori, para depois me entregar e me deliciar no palco com a minha equipe.

Como é a relação com a família? Eles acompanham e celebram esse momento de sucesso ao lado de vocês?

Isma: Nem sempre foi boa. Eles estão avançando aos poucos, mas me sinto na melhor fase com eles. Sou de berço evangélico, cresci com o pai pastor, então vocês imaginam que não foi fácil. Mas hoje, ser uma artista bem-sucedida fez com que eles refletissem sobre muita coisa. Estão me respeitando e me incluindo cada vez mais. Hoje em dia, eu compartilho sempre as novidades com eles. Todos me parabenizaram por cantar com a Ludmilla no Numanice. Me emocionei!

Vita: Graças a Deus e aos orixás, hoje minha família tem uma relação maravilhosa. Já levei para muitos shows, e eles falam com muito orgulho da minha história e do movimento que faço. Na minha quebrada, quando eu chego, minha mãe, os moleques e minhas tias já falam: “A patroa chegou.” Hoje, pelo meu trabalho, pela minha história e postura, consegui criar um respeito muito grande dentro de casa e nas ruas.

A minha família e a minha quebrada se reconhecem em mim. É muito gratificante ser uma travesti e ser uma referência para eles, porque eles são a minha maior referência de vida. Sou tia da Maria e do João, e esses dias a Maria disse: “Tia, você é a melhor tia do mundo.” É tão rico você se sentir amada, respeitada e, sobretudo, colaborar para um imaginário em que as pessoas consigam ver em nós, travestis, seres merecedores de afeto e de respeito. Recentemente, gravei um filme sobre a história das mulheres da minha família — o processo de migração de Minas Gerais para São Paulo e o trabalho doméstico. Tenho fé em produzir conhecimento e cinema como forma de eternizar minhas memórias.

TEAM CREDITS:

Editor-in-Chief: Prince Chenoa

Feature Editor: Taylor Winter Wilson (@taylorwinter)

Brazil Editor: Leonardo Loreto (@leonardoloreto)

Writer: Gillian Caetano (@gilliancaetano)

Direção Criativa: Gabe Lima ( @gabe_____lima ) , Gustavo Vieira ( @gustvovieira)

Direção Executiva & Gráficos: Puritana Co. ( @puritana.co)

Fotografia: Wallace Domingues ( @wall404)

Assistente de Foto: Rodarlen ( @ressumbrar)

Produção Executiva & Geral: Lua ( @luav.sou), Vinicius Gomes ( @upvini), Charles Giacon (@charlesgiacon)

Assistente de Produção: Bianca (@blucky.com.br ) , Sand Melo (@_sandmelo)

Beleza: Eduardo de Castro (@Edu333)

Assistente de Beleza: Joao Paulo Maia ( @actedboy)

Hair Stylist: Shady Jordan ( @shady_jordan)

Wardrobe Stylist: Mia ( @miabadgyal)

Produção de Figurino: Brabo.Br ( @brabo.br ) , Wes (@wessimplicio)

Looks: Nilme (@nilmesz ) , Usejoias (@usejoias__ ) , Fensyyy (@itfensy ) , Wes (@wessimplicio) , Trapo (@trapo.br)

Set Design: Roberth Augusto ( @roberthaugsto)

Casting: Marlon Lopes (@eumarlonlopes) , Mark (@markjunior)

Backstage & Mini DV: Eduardo Nunes (@papodipokas)

Polaroids & Cybershots: Gustavo Vieira (@gustvovieira)

 

 

 

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